Os dados, inéditos, revelados pela segunda coleção de mapas do MapBiomas mostram como o território brasileiro se transformou ao longo do século XXI, com imagens de satélite que vão de 2000 a 2016. Em apenas 15 anos, entre 2001 e 2015, o país perdeu 20% de sua área de manguezais, em parte destruídos pela expansão urbana. O Pantanal, bioma brasileiro mais preservado, assiste a uma conversão da vegetação natural, onde o uso de pastagens naturais é alterado para pastagens plantadas com vegetação exótica – 13% área (incluindo gramíneas e florestas) virou pasto no mesmo período. E o Cerrado teve perdas proporcionalmente três vezes mais elevadas do que a Amazônia. Mas há também esperanças: a quase extinta Mata Atlântica passa por um renascimento, tendo ganho 2,5 milhões de hectares (o equivalente a quase uma Bélgica) neste século.
O MapBiomas se trata de um Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil, iniciativa do Observatório do Clima em colaboração com 18 instituições, entre universidades, ONGs e empresas de tecnologia. A nova série de mapas permitirá pela primeira vez acompanhar a evolução da ocupação do território em todos os biomas brasileiros ao mesmo tempo – hoje essa informação só está disponível para a Amazônia e Mata Atlântica e, de dois em dois anos, para o Pantanal – e calcular com maior precisão as emissões de gases de efeito estufa dele resultantes. Possibilitará também saber quanta floresta está se regenerando no Brasil, como se revelou ser o caso da Mata Atlântica.
A Mata Atlântica, que teve sua cobertura original reduzida a 12,5%, cresceu de 276 mil quilômetros quadrados em 2001 para 301 mil quilômetros quadrados em 2015. O estado campeão de regeneração foi o Paraná mas quem ganhou mais mata em relação à área total do estado foi o Rio de Janeiro. O crescimento de florestas secundárias na Mata Atlântica está longe de significar que o bioma esteja salvo, o desmatamento nas matas primárias permanece, em taxas relativamente menores, mas ainda inaceitáveis. Entretanto a recuperação das florestas secundárias já é um bom motivo para comemorar, já que estas sequestram carbono (mitigando o aquecimento global), protegem fontes de água e criam corredores entre fragmentos de mata.
Os mapas de todo o país, foram gerados através de dois recursos nunca antes empregados em conjunto no entendimento do uso do solo no Brasil. O primeiro é o trabalho em rede, com especialistas da academia, do setor privado e de organizações ambientais. O segundo é a computação em nuvem, feito a partir da plataforma Earth Engine, do Google, o que fez com que multiplicasse o poder de processamento de dados do projeto. Segundo Tasso Azevedo, do Observatório do Clima/SEEG, coordenador geral do MapBiomas. “Isso não substitui outros sistemas de monitoramento, mas complementa-os, para dar um quadro mais completo de como nosso território vem se transformando.”