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Foto do escritorDantte Saliba

Aquíferos que abastecem várias regiões do Brasil estão ameaçados com a destruição do Cerrado



O arqueólogo e antropólogo baiano Altair Sales Barbosa, que há quase 50 anos estuda o papel do Cerrado na regulação de grandes rios da América do Sul, e segundo ele as plantas desse bioma atuam como imensa esponja, recarregando aquíferos que abastecem rios e reservatórios de vários pontos do país.

Barbosa disse em entrevista à BBC Brasil que a água que alimenta o rio São Francisco e as represas de São Paulo e Brasília vem de três grandes depósitos subterrâneos no Cerrado: os aquíferos Guarani, Urucuia e Bambuí. Estes aquíferos são recarregados pela chuva, mas dependem da vegetação para que a água chegue lá embaixo. Segundo ele, com a expansão da pecuária e de grandes plantações de grãos e algodão pelo Cerrado, essa dinâmica começou a ser radicalmente alterada já que a nova vegetação tem raízes curtas e não consegue transportar a água para o fundo. A situação piora entre a colheita e o replantio, já que as terras ficam nuas, fazendo com que a água da chuva evapore antes de penetrar o solo.

A rápida destruição do bioma está golpeando um dos pilares do sistema: a gigantesca rede de raízes que atua como uma esponja, ajudando a recarregar os aquíferos que levam água a torneiras de todas as regiões do Brasil. Se o nível de água dos aquíferos cai, nascentes em áreas mais elevadas secam.

Barbosa diz torcer para que, um dia, a ciência encontre formas de recuperar o Cerrado, pelo menos nas áreas de recarga de aquíferos. Sua preocupação maior é com a fronteira agrícola conhecida como Matopiba, que abrange os últimos trechos de Cerrado no Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Se a exploração na extensão do bioma progredir os aquíferos do Cerrado rapidamente se esgotarão.

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